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Ao entrarem na disputa com o discurso do "continuar o que está bom", os tu­­canos subverteram a lógica da demo­­cra­­cia e correm o risco de sofrer uma aca­­chapante derrota eleitoral e uma der­­rota política que pode abalar as es­­tru­­turas do partido

Talvez a maior vitória política do presidente Lula, ao longo de seus dois mandatos, tenha sido relegar a oposição a um papel desprezível. A retórica lulista transformou a prática de se opor – natural e desejável em qualquer regime democrático – em algo indecente, imoral, empreendida por representantes de interesses nebulosos. Mesmo contando com o apoio irrestrito dos mais notórios plutocratas e oligarcas brasileiros, Lula é capaz de discorrer sem pudores sobre uma tal "conspiração das elites". Trata-se de um método que empobrece a política, mas que – não se pode negar – foi eficaz até aqui.

E, justamente por isso, poucas vezes fazer oposição foi algo tão custoso politicamente no Brasil. Evidentemente, o regime militar é um capítulo à parte. Contudo é importante ressaltar que os opositores da época nutriam – e ainda nutrem – uma reserva moral que lhes conferia, com razão, um ar de resistência e de heroísmo. Hoje a situação é totalmente diferente. Além de alijar-se das benesses do poder, aqueles que se arriscam a levantar a voz contra o governo do "nunca antes na história deste país" parecem estar praticando algo ilegítimo. Afinal, como se opor a um governo cujos índices de aprovação beiram a unanimidade?

O resultado disso foi a emergência de um clima de "nós" e "eles", cujo paroxismo é a im­­pressão de que essas eleições configuram uma luta entre o bem e o mal, entre aqueles que torcem pelo Brasil e a "turma do contra": a esperança em sua batalha perpétua contra o medo. Se você não é petista – ou lulista, para ser mais preciso –, logo, é tucano: como se estivéssemos diante de coisas antitéticas, polos que se excluem mutuamente, a despeito da inegável semelhança entre os dois partidos.

Está claro, porém, que a oposição não é apenas vítima deste processo. Ela é, talvez, a principal responsável por seu próprio esvaziamento. Ao ver o presidente se apropriando com sucesso de sua "herança maldita", a oposição se viu diante de um dilema: como se insurgir contra um modelo que eles próprios criaram? Contabilizam-se quase oito anos e a "causa" a defender ainda não foi encontrada.

O jeito foi opor-se sem perder a ternura: tanto o candidato da oposição quanto a candidata da situação apresentam-se como legítimos continuístas, cada qual querendo mostrar seu modo lulista de ser: o problema é que por mais esforçado que seja, José Serra, por razões óbvias, será sempre visto como um continuísta genérico, uma vez que a chancela de "legítimo" está com Dilma Rousseff.

Independentemente do resultado das eleições do próximo domingo, algumas lições já se mostram evidentes. A principal delas – e causa estranheza que os políticos profissionais não tenham atinado para isso – é que a função primordial de um partido de oposição é, por mais exótico que isso possa parecer, fazer oposição. Ao entrarem na disputa com o discurso do "continuar o que está bom", os tucanos subverteram a lógica da democracia e correm o risco de sofrer não apenas uma acachapante derrota eleitoral, mas também uma derrota política que pode abalar profundamente as estruturas do partido.

A atitude do consórcio PSDB e Democratas foi da arrogância extrema, quando à época do mensalão acharam que poderiam "sangrar" o presidente e derrotá-lo nas urnas, até a mais singela pequenês, ao mostrarem que, se eleitos, serão tão lulistas quanto Lula.

Eis o resumo da trama dos últimos oito anos, cujo ato final pode se dar já no próximo domingo: com a conivência bovina dos partidos de oposição, Lula conseguiu criar – com seu inquestionável talento político – a Repú­­blica do adesismo. Resta saber quem será o escolhido para lhe beijar a mão.

Elton Frederick é especialista em Política e Relações Internacionais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

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